Pascal Wehrlein fala sobre a temporada de 2024, foco e a evolução da Fórmula E
Quarto lugar no campeonato de 2023, Wehrlein falou sobre os pontos que precisam ser melhorados para a 10ª temporada e trouxe a perspectiva de piloto em relação ao Gen3 e as novas pistas
Há algumas semanas ocorreu uma coletiva de imprensa com o Pascal Wehrlein e o piloto da Porsche falou sobre a família, a temporada de 2023, as expectativas para 2024 e enfatizou que no próximo ano o principal objetivo dele e da equipe é serem mais eficientes na classificação e também a evolução do software do Porsche 99X Electric.
Wehrlein começou a entrevista falando um pouco mais de seu passado, de como o automobilismo entrou na sua vida e conquistou o seu coração quase que imediatamente. Seus pais embarcaram nesse sonho junto a ele e ao longo de anos a rotina da família era viajar pela Alemanha e em outras partes da Europa para que ele pudesse competir. Seu pai muitas vezes atuou como mecânico de seu kart e a mãe como uma agente de carreira que sempre buscava oportunidades para o filho.
“Meu pai foi um lutador de boxe quando ele era mais novo, mas o meu único interesse era virar um piloto de corrida. Desde bem pequeno eu assistia qualquer campeonato de automobilismo que passava na TV junto com o meu pai, porque ele também gostava. Eu lembro quando a gente foi assistir uma corrida da Fórmula 1 em Hockenheim, acho que foi em 2000. Para mim foi fascinante poder estar lá na arquibancada assistindo tudo na minha frente. A partir daquele dia eu senti que de fato era o que eu queria fazer, conversei com os meus pais e eles começaram a se organizar para isso. Três anos depois eu estava andando de kart. Comecei aos poucos a entrar nos campeonatos alemães e de 2005 a 2008, foram 4 anos seguidos onde eu conquistei diversos títulos nos principais campeonatos da modalidade e fui trilhando a minha carreira a partir daí”, contou.
Pascal comentou brevemente sobre a sua passagem na Fórmula 1 com a Manor e a Sauber, comentou sobre a DTM e as diferenças entre os carros, até chegar na sua entrada na Fórmula E e o seu crescimento dentro da Porsche, onde apesar das dificuldades encontradas ao longo do caminho, a equipe foi aprendendo com os erros e se preparou fortemente para o Gen3.
“Até antes da temporada de 2023, eu passei por alguns momentos bons com a equipe, mas essa foi a primeira vez que eu experimentei algo diferente. O começo não foi óbvio. Os testes de pré-temporada em 2022 não foram muito bons para a gente, então, o início do ano foi repleto de dúvidas em relação a nossa performance. Porém, nós começamos bem no México e ao chegar na Arábia Saudita, eu consegui vencer as duas provas, largado do nono lugar na primeira corrida e do quinto lugar na segunda corrida, foi algo muito especial e marcante para a equipe. Mostrou que a gente tinha força para brigar por algo a mais”, disse.
Mesmo com o ótimo começo, a Porsche aos poucos foi sendo passada para trás à medida que equipes como Jaguar, Envision e até mesmo a Andretti - que usa o trem de força da equipe alemã - conseguiram alinhar a evolução de software com boas estratégias para alavancar o desempenho de seus pilotos.
Quando a Porsche finalmente conseguiu voltar a brigar de igual para igual, já era tarde demais. Nick Cassidy, Mitch Evans e Jake Dennis estavam em uma disputa onde não tinha espaço para Pascal Wehrlein entrar por mais que tentasse.
Deste modo, o nome mais comentado na primeira metade do campeonato, se tornou uma menção honrosa nas últimas rodadas da briga pelo título.
Wehrlein celebrando a vitória no E-Prix de Diriyah (foto: Formula E)
Pascal reconhece as suas falhas e sabe o que é necessário ser feito para que a temporada de 2024 termine de uma forma diferente.
“Eu acho que onde a gente mais precisa melhorar é na classificação. O que é irônico, porque a classificação foi um dos nossos pontos mais fortes nas temporadas anteriores e perdemos isso no Gen3. Agora, o nosso foco principal é melhorar a performance na volta rápida, porque acho que isso foi uma das coisas que nos custou o campeonato. Também fazer stints mais eficientes, porque nós temos um dos carros mais fortes e não conseguimos aproveitar o máximo disso. Claro que as outras equipes também foram evoluindo e souberam extrair coisas de seu equipamento que, talvez, a gente não soube. O ponto principal é esse. Sim, temos um carro forte para conseguir bons resultados, mas temos que melhorar na classificação”, afirmou.
Com o congelamento do powertrain de uma temporada para a outra, não há muito o que as equipes possam fazer para aprimorar o motor, mas Pascal garante que mesmo assim tem pontos muito cruciais que podem ser determinantes para um bom desempenho na competição, como o ajuste de setup e o aprimoramento de dados do software dos carros.
“A área do software é uma das coisas mais importantes da Fórmula E e provavelmente acrescenta mais a performance do que os ajustes feitos no setup. Tem a parte de aprender a lidar com os pneus, porque mudamos para a Hankook na temporada de 2023, então, é um pneu muito diferente e tem muita coisa que ainda estamos descobrindo. O ano de 2023 foi a nossa primeira temporada com o Gen3, ainda tem muitas áreas nebulosas que cada equipe está procurando entender para entregar uma performance ainda melhor em 2024.”
Mergulhando um pouco mais na questão do carro, Wehrlein foi sincero ao dizer que os pilotos muitas vezes podem ser chatos, já que independente do carro que pilotem sempre vão achar que tem algo faltando por conta da disputa que acontece ao longo da temporada. Entretanto, apesar de achar que o carro atual é mais arisco para dirigir do que o Gen2, Pascal sentiu que o Gen3 entregou muito mais emoção não só para quem assiste, mas para os pilotos também.
“Tivemos mais disputas dentro de pista e a gente conseguiu extrair mais do carro. Isso proporcionou quase que um tipo diferente de corrida em cada pista. Teve pistas onde tivemos que ser mais estratégicos e em outras a gente pode arriscar mais na velocidade. Um dos pontos mais altos desse carro são as variações que ele causa nas dinâmicas das corridas. Eu gosto dos desafios, porque não é um carro fácil de pilotar já que não temos muito atrito e não temos muito downforce. A classificação é sempre onde vamos mais rápido, é algo que nos obriga a correr no limite e isso é emocionante. No geral, eu gosto do carro e ele nos proporcionou uma temporada que foi um sucesso entre os fãs”, disse Wehrlein empolgado.
Pascal durante a entrevista realizada por vídeo
(reprodução: Fórmula E/Entre Fórmulas)
Uma das principais novidades para a 10ª temporada é a recarga rápida (você pode conferir um vídeo da recarga rápida acontecendo nessa matéria aqui) e a expectativa é que seja realizado em cinco etapas do calendário, uma vez que a Fórmula E quer ver como isso vai impactar na dinâmica das corridas antes de decidir implementar em uma temporada completa.
“Testamos muito a recarga rápida na pré-temporada em Valência e também fizemos outros testes privados. Ainda não tenho certeza de quais pistas isso será aplicado. Acredito que deva acontecer nas rodadas duplas, já que a ideia é usar em uma corrida e na outra não. E pra mim faz mais sentido se for assim. A premissa é interessante, temos que ver como vai ser nas provas.”
Na parte final da conversa, Pascal desatou a falar sobre as pistas da Fórmula E e sobre como, aos poucos, não só a expansão de etapas está ocorrendo, mas também o aumento de autódromos no calendário agora que o carro está cada vez mais veloz.
Wehrlein se mostrou empolgado com o futuro e trouxe uma curiosidade interessante sobre como as pistas nem sempre são o que elas parecem ser e para quem é espectador é difícil ter essa noção, justamente, porque quem pilota os carros são os pilotos e não o público.
Segundo o alemão, tudo depende do tipo de pista e como ela se encaixa com o carro.
“Tem pistas como a do México que é um autódromo, mas para os pilotos parece uma pista mista. São Paulo, por exemplo, é uma pista que é considerada de rua, mas dá uma sensação de pista desenhada especificamente para corrida, pelo menos na perspectiva de um piloto parece isso quando estamos nela. Então, realmente depende do conceito da pista e o que ela nos oferece. Tem pistas como Valência, que quando você dirige nela não faz sentido um carro de Fórmula E estar lá, mas em casos como a Cidade do México e São Paulo faz sentido”, explicou.
Assim como outros pilotos do grid já destacaram em diversas entrevistas, Pascal reforçou que o DNA da Fórmula E são as pistas de rua e que mesmo com o aumento de autódromos isso não deve mudar.
“No Gen1 e no Gen2, os carros eram mais lentos para isso, mas a partir do Gen3 ficou claro que vamos ter mais pistas de autódromo. Eu senti que o autódromo nos proporcionou corridas muito interessantes e foi divertido, mas eu ainda acredito que a maioria das corridas devem seguir acontecendo em pistas de rua e eu espero que permaneça sempre assim, sendo um campeonato misto, porque as ruas nos entregam um desafio diferente. Eu gosto da sensação de correr na rua, o risco de acelerar próximo da parede, a adrenalina. A rua faz sentido pra mim”, finalizou.
Comments